31 julho 2005

DESABAFO


Renoir, Jules le Coeur et ses chiens dans la forêt de Fontainebleau, 1866 (MASP, São Paulo)


I – O Início
Além-mar quebrou-se a onda
contra a rocha.
Ah espuma branca!
Volta à vida tua
mas deixa ao menos o ruído
que ouvi outrora ao meu lado.

II – O Passado
Mergulharia até o mais profundo
e atravessaria o mundo
pra te encontrar.
Não choras, mas eu choro.
Não queres, mas eu quero.
Ah Espuma branca!
Dissipaste na imensidão
e avivaste minha solidão.

III – O Presente
Espuma branca que trouxeste glória.
Que bom que agora
já não és mais que história!

IV – O Início
...



© 2005

11 julho 2005

MADREDEUS E A SAUDADE


Neste momento de seca poética, peço licença a um grupo português que descobri apenas recentemente (infelizmente), mas que já tem quase 20 anos de estrada. É o Madredeus, que tornou-se conhecido no Brasil ao ter canções incluídas na trilha sonora da minissérie "Os Maias".

Eles fazem uma música que deve ser ouvida com a alma e não com os ouvidos. Deve ser sentida, não escutada. Deve-se ter o coração aberto, como quando ao ler livros religiosos ou poesias. Do contrário, pode-se perder todo o sentido e inclusive, causar certa estranheza e torpe admiração.

Atualmente consta de quatro músicos: Pedro Ayres de Magalhães (guitarra clássica), José Peixoto (guitarra clássica), Fernando Júdice (guitarra-baixo acústica), Carlos Trindade (sintetizadores) e a voz de tom, afinação e sentimento únicos de Teresa Salgueiro.

A letra da música abaixo, "Adeus... e nem voltei" carrega muita semelhança com a poesia minha publicada antes ("¿Cómo se dice..."). É uma música do primeiro álbum de 1987, "Os dias da Madredeus" ainda com a formação original, contando com Teresa Salgueiro, Pedro Ayres de Magalhães, Rodrigo Leão (teclados), Gabriel Gomes (acordeon) e Francisco Ribeiro (violoncelo). Mais português, menos global, mas muito original.


Adeus... e nem voltei.
(Pedro Ayres de Magalhães)

Adeus, dissemos
e nada mais de então ficou
de asas quebradas
foi a ave branca que voou
Voa lá alto, que eu morro, bem sei, sem voltar
Cantem as aves do monte qu'eu fui ver o mar.. .

Ai,
não sei de mim;
Ai,
não sinto nada..
Ai,
e nem,
voltei.