04 novembro 2005

ETERNAMENTE PROFANO


Eugene Delacroix, A morte de Sardanapalo, 1827-28 (Louvre, Paris)


Depois de tanto ler a obra-prima de Flaubert
E desfrutar das aventuras da profana Bovary,
Comeu pão, geléia, um gostoso camembert
E uma bem passada carne da famosa boucherie.

Em Veneza viu Otelo, o mouro sonhador,
Se encantar pela mocinha, a musa de Iago.
Caíram o suave lenço e o jabón de tocador,
E após o banho atacou, à beira de um lago.

Após Sienkievickz, perguntou: “Pra onde vais?”
Desconcertado com o banquete dos leões na piazza.
Percebeu que tem instinto como os outros animais
E explicou o porquê para a bela ragazza.

Na Londres Vitoriana, o ideal de Dorian Gray.
Em local conservador, o imoralismo do retrato
Lhe fez se dissipar cantando a vida night and day
E não perdeu nenhum minuto até a consumação do ato.


©2001

LENDAS E MISTÉRIOS NA VIDA DE PEDRO, UM HOMEM COMUM



Num dia de Domingo
saiu Pedro a passear
para ouvir alguém cantar
sob os raios de luar.
Mas enrolou-se numa teia
e admirando a lua cheia
afogou-se em alto-mar.

Num dia de festejos
saiu Pedro a bailar,
as moças adular
e deixar-se enfeitiçar.
Mas atiçado por um cheiro
esqueceu o mundo inteiro
e parou de respirar.

Num dia de oração
saiu Pedro a rezar.
Começou a conversar
com a estátua sobre o altar.
Mas brincando com a santa
foi sugado por sua manta
e faltou-lhe todo o ar.

Num dia ensolarado
saiu Pedro a se banhar
pelas vãs águas nadar
e à brisa se secar.
Mas vendo tudo tão perfeito
resolveu olhar direito,
E disse: “As ondas vão chegar,
os monges lamentar,
a viúva vai chorar
e a menina soluçar.
Para poder escapar,
asas brancas vou criar
e por aí irei voar”.


© 2005