HOMENAGEM À SERTANEJA
Henri Matisse, Rose Nude, 1909 (Musée des Beaux-Arts, Grenoble)
O galo cantou às 4
Empurrando pra cima um fardo de carne doída, moída
Reflexo de ternura e dureza em panelas opacas
Água, fogo e muita energia
Em movimentos circulares
De trás
De frente.
Surge uma face cândida, mas permanece cândida
E surgem outras.
Hora de partir com um no colo e outro no colo de um dos dois atrás.
Sol, chuva, vento
E seguem os cinco
Costura, lava, passa, cozinha, varre
Semeia, planta, rega, debulha, colhe
Penteia, ajeita, abotoa, abraça, afaga
Ainda seguem os cinco.
© Outubro 2009
HOMENAGEM À HIPOCRISIA
Salvador Dalí, Butterfly Landscape (The Great Masturbator in a Surrealist Landscape with DNA), 1957-58
Felizes os hipócritas que conseguem sorrir
Enquanto eclode a guerra genocida
Admirados são aqueles que se fartam e se banham
Na corrente putrefata e malcheirosa
Que delícia e que olor!
Erguidos aos céus serão os mártires discípulos de T
E para cada tapinha na espádua, um passo garantido
Rumo ao Paraíso.
Sábios são os que se despem
e vestem o seu próximo ao Norte
e não se envergonham de estarem nus!
Tende sempre perfume convosco se constantemente vos fedem as axilas
Bebei urina se assim vos for pedido e tiverdes sede
Sorride, sede airosos, aprazíveis e galhofeiros
Quando brutalmente deflorado fordes.
E com estes ensinamentos meu filho,
Saberás com argúcia chegar onde sempre quiseste
Continues assim e não dês atenção aos seres que te julgam
Do lado externo da bolha.
Aqueles seres, os... os... os humanos.
Argh!
“Parabéns aos hipócritas, que além de poderosos e contarem com milhares de fiéis seguidores, não percebem que são hipócritas.”
Daniel Lemos Silva
© Maio 2008